segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Rubik

Dos teus admiradores sou aquele que não se ilude e que nada espera de ti. Ciente de que nunca te terei por completo (é possível não querer te compartilhar com o mundo?), amo-te como a um sonho infinito, ainda que minha vida seja breve. És destino praticamente inalcançável, porque pura, coletiva e simples demais para os que confiam apenas na complexidade das próprias criações. E, ironicamente, existes desde o tempo em que éramos todos pueris. Somente tu poderias explicar porque mudamos, mas teu silêncio é pior que nossa ignorância.

sábado, 29 de outubro de 2011

O Impropério Contra-Ataca


A dor de cabeça filha da puta só serve pra me lembrar que é mais um dia fodido nessa merda de lugar. Só não sou mais imbecil por falta de espaço, porque insisto em não enxergar o lixo à minha volta. A porra do tédio incomoda pra caralho, sempre. Só penso em encher a cara de álcool e mandar tomar no cu quem acha que isso é ser alcoólatra. Dar um grande “foda-se!” pra quem tem a mentalidade neandertal, não compreende picas de nada e vomita escrotice através de palavras recalcadas tentando criar um ar de superioridade. Mas percebo que só conseguiria ficar rouco e cansado, pois todo mundo está cagando pra isso. Bosta!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Cicatriz de Teatro

Dos sonhos de pouco tempo atrás a saudade é grande, provavelmente infindável. O motivo de não terem sido realizados é desconhecido, mero palpite afirmar que o abraço brusco da realidade os cobriu. Porque a realidade é criação nossa, tal qual a fantasia, basta amputarmos seus espinhosos braços. Mesmo que por acidente.

(...páginas perdidas do roteiro original...)

Outro atropelamento. Acertou em cheio todos os desejos sem piedade, talvez por vê-los como faz-de-conta. Não longe dali, lutadores, cansados, param de lutar ao perceber o violento choque. O vampiro se afasta, rindo ao perceber que não haverá outro nascer do sol. E o demônio permanece para não perder a oportunidade de sussurrar-me as palavras que conheço tão bem: “eu te avisei”.

(A cortina se fecha. Os espectadores dormem em silêncio.)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Obrigado à Solidão


Devo quase tudo que tenho e terei a uma fêmea dominadora e misteriosa. Seria negra, não contivesse todos os matizes que colorem as diversas paisagens tão acostumadas à minha vista. Seria uma credora indesejada, não fosse feita de sons compassados, desde a simples melodia criada num murmúrio até a complexidade de um punhado de acordes repetidos e por vezes desafinados que tanto alegram meus sentidos.

E aos desavisados o processo parece mecânico: recebo o pagamento e passo-o imediatamente a esta jovem senhora, mero intermediário que sou, reservando-me apenas o lucro para o sustento próprio.

Não a conheço tão bem, apesar da inexistente reciprocidade nesse assunto. Amo o pouco que conheço, amparado, talvez, pela benção da ignorância. “Destinado” é uma palavra cortada de meu vocabulário há muito tempo, mas ouso imaginar um sempre-encontro-inesperado. “Desatinado” substitui com mais exatidão a outra palavra.

É maldição, mas a escolha é minha.