sexta-feira, 24 de junho de 2011

Confundindo a Vida Adoidado

O que move é sonho, mas a dor é seu combustível. A direção é desconhecida é há pânico no set de filmagem, pois ninguém quer ser visto de passagem. Nem o trem me força a andar nos trilhos e, sozinho, vago, como o assento ao lado. Ainda assim, minha fome não é facilmente saciada, uma vez que a carapuça não serve perfeitamente em quem perde a cabeça e comete um crime imperfeito, deixando vestígios de arrependimento. Tenho pena do travesseiro que não sustenta a pesada consciência alheia a todos. Quem mata a vontade em legítima defesa não merece a cadeia alimentar. Como sempre, preciso emagrecer. E também perder o olhar de peixe morto. Homem ao mar. Nada, é o que parece.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Eutanásia

A verdade é que tive medo. Caso a fantasia tirasse a máscara da realidade eu morreria em questão de segundos. Mas sei que morro agora aos poucos e a cada dia cavo um novo buraco no solo para enterrar um pequeno pedaço de meu corpo. E farei isso indefinidamente ou até sobrar apenas minha claustrofóbica e inútil consciência, esta sequer consegue calcular o tamanho de meu quintal.

Acho que há ligação. Deve haver. Não é possível ter certeza porque o engano tenta tapar meus olhos e vejo tudo embaçado. Lembro-me por um momento dos policiais dos filmes que dizem aos pedestres, logo após um tiroteio na rua: “não há nada para ver aqui”. Nada a ver. E se a ligação existir? E se a verdade for a de que eu sempre terei medo?

Nada sei sobre pensar com dois cérebros. Além dos movimentos indecisos e desorientados, confundo o que me é dito, ainda que não esteja certo de ter ouvido algo. Às vezes parece ser ácida a tempestade interna por mim exorcizada, pois me contento em receber em troca água potável em conta-gotas. E, de dentro, percebendo a aridez tentando progredir, temo o dia em que verei ceder as últimas trancas.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Blue Angel

Das horas infindáveis de incerteza,
do fardo permanente carregado por vontade própria,
da sonhada fuga em momentos efêmeros
e da sombria expectativa quanto aos próximos passos
és a trilha sonora.

Ouço-te acima das conversas com amigos,
dos sons abafados das ruas
e da música que insiste numa fútil concorrência
para ganhar meus ouvidos.

Percebo tuas palavras tímidas ecoarem além do espaço em que me encontro,
como conselhos atirados ao acaso entre as refeições.

Porque apenas quem já morreu por dentro tem o que dizer.
Porque apenas quem já morreu por dentro tem o que dizer.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Carbonite

Em pé, imóvel e assustado. Os olhos cerrados denotam medo e aflição. Sem sentido algum, contento-me com o pouco de atividade cerebral que me resta: uma consciência feita de memórias recentes pulsando aleatoriamente. A imagem predominante é a de seus olhos atônitos distanciando-se gradativamente, enquanto, numa lenta descida, rumo ao inferno de gelo. E do tempo não sei mais nada.

“I love you!”
“I know.”

terça-feira, 7 de junho de 2011

K-Metal

Ela desapareceu sem deixar pistas, mas a dor homônima manteve-se no mesmo lugar. Estava aqui antes de tudo, e permanecerá até que meu corpo esfrie definitivamente, alimentando-se de palavras, sons e olhares para programar sua próxima hibernação. Também ficam as indagações, os medos pueris e a inconformação disfarçada num pedaço de sorriso.

Garimpada ao acaso, jóia rara de brilho único, um acidente bem-vindo que fez enriquecer meu possível futuro, ainda que brevemente. Tão pouco foi o tempo que mal sei se realmente a tive. Em seu lugar dívidas inúmeras sem vencimento definido. Ônus de pensamentos a pagar.

Não pude abraçá-la e expor minha fraqueza. A esperança dessaturou a própria tonalidade, misturando-se ao negrume ao redor e empobrecendo meus sentidos.

Desorientado, resta-me o caminho que conheço de olhos fechados. Faz muito frio na Fortaleza da Solidão.