quarta-feira, 27 de março de 2013
Válvula
Criei meu mundo fantástico, de incontáveis detalhes e beleza admirável. Tão vasto e real que meus olhos se confundem, meu coração se desorienta. Um mundo paralelo à minha consciência, fazendo-se presente desde o acordar e desaparecendo quando chego ao meu sono profundo. Seus caminhos se misturam aos meus, e alterno minhas escolhas com tamanha frequência que a linha divisória entre realidade e desejo não é percebida com clareza. Mas não reclamo, a finalidade é justamente essa. Não faria sentido criar um mundo do qual eu não fizesse parte. Preciso viver nele simultaneamente e sentir saudade de estar dentro dele, fazer de cada pedaço de minha criação algo raro e precioso, insubstituível. Amar esse mundo feito um improvável deus que se importa. Dessa maneira, ainda que esteja só, sinto-me livre.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Na Areia, a Casa dos Reis
Os olhos que tentam perseguir todos os movimentos das pessoas no salão, mesmo com a visão prejudicada. A coleta mental de dados para produzir estatísticas instantâneas que nunca divulgarei. O tempo acelerando junto aos pensamentos, em desespero crescente e visível. A fome, a sede e o medo de me ver como a causa do problema. O afastamento involuntário, a vontade de interromper o diálogo para falar mais alto.
A realidade que veio inadvertidamente como um soco no estômago e roubou meu repouso, meu ar e meu equilíbrio. Que me fez perceber a ausência de chão e tornou a queda infinda. A espera pelo derradeiro impacto que, sei bem, quebrará meus ossos e me fará cuspir o sangue pela boca.
Não tenho pressa por desconhecer a velocidade e choro pela inevitável falta de resistência que fantasiava possuir.
Nunca estarei só, mas assim sempre o serei.
A realidade que veio inadvertidamente como um soco no estômago e roubou meu repouso, meu ar e meu equilíbrio. Que me fez perceber a ausência de chão e tornou a queda infinda. A espera pelo derradeiro impacto que, sei bem, quebrará meus ossos e me fará cuspir o sangue pela boca.
Não tenho pressa por desconhecer a velocidade e choro pela inevitável falta de resistência que fantasiava possuir.
Nunca estarei só, mas assim sempre o serei.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Disfarce
Da solidão que conforta e impõe temor sou escravo e dependente, desejando assim ser, enquanto durar meus longos dias. De passividade tola visto minha coragem cansada. Posso então conhecer meus limites sem ser genuinamente ingênuo. E entre ter a consciência de não servir para aceitar de bom grado o que me é oferecido e camuflar a vontade inquieta por mudança, escolho a segunda alternativa. Porque o grito ecoará mais forte e duradouro ao desistir de tudo.
domingo, 13 de janeiro de 2013
Apofenia
Estão jogadas por toda parte, pelo tempo de uma vida, as
músicas, as imagens e as sensações que ajudaram a me definir. Tu podes
embaralhá-las exaustivamente, dias a fio, não importa. É fácil rearranjá-las,
acostumei-me a isso. Porque teus muitos nomes aparecem constantemente, são meus
guias na ordem das coisas. Ainda que os períodos sejam irregulares, ainda que
algum lapso me faça esquecer algum detalhe, há métrica em tudo. Porque sempre
diferente e repetitivo ao mesmo tempo. Muda um local, um intervalo, uma
opinião. Mas a estrutura permanece, mesmo com disposições aleatórias. Dito
isto, não há uma só vez que eu não me surpreenda com a previsibilidade que
carregamos em nossa psicopatia.
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