quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Suspense

Seu aviso de chegada não passou pela peneira de meu ceticismo. Ela é amável e não sai de meus pensamentos, mas a probabilidade de aparecer ali era pequena. Um caminho fora de sua rota, o horário não muito favorável e algumas doses de álcool para alimentar seu cansaço. Ela não viria, certamente, e eu entenderia. Muitas vezes dizemos essas coisas automaticamente, prometemos fazer uma visita ou nos encontrarmos por aí (“a gente se vê”)... Entretanto, em algum ponto, mudamos de ideia, a preguiça nos amarra, procrastinamos. E a vida segue sem maiores incidentes. É o que normalmente acontece, certo? Talvez por isso a surpresa ao vê-la abrindo a porta do bar. O sorriso, a voz doce, os gestos pausados e a serenidade, tudo em uma involuntária sincronia para me fazer entender o quanto foi maravilhoso estar errado. Pareceu breve demais, como todas as coisas boas, mas foi o suficiente para perceber a diferença que ela fez. E continua fazendo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Amianto

Ando com calma, não corro riscos.
Rabisco redemoinhos nas laterais do caderno.
Sempre à margem.
Rio sem mostrar os dentes de fumo.
Trago em minhas mãos apenas tua foto em preto e branco.
Dou-lhe cor mentalmente - é sempre diferente, todas as vezes.
Multiplico as alegrias de um coração que ainda queima,
mas é incapaz de mostrar seu ardor.
E chamas meu nome apenas em delírios meus.
O que mais tenho, além de uma loucura que jamais será extirpada?