segunda-feira, 18 de junho de 2012

Vir A Mim

Criar o monstro. Esculpir seus olhos, dentes, garras, chifres, corpo. Detalhar a textura da pele, escolher pacientemente as tonalidades da paleta, definir suas deformidades físicas e atribuir-lhe a voz gutural. Estudar o melhor disfarce.

Olhar para dentro dele e imbuir-lhe personalidade crível e independente. Presenteá-lo com um passado, preenchendo cada compartimento de memória. Roubar-lhe a inocência, mostrando a ele todo o mal. Justificar suas ações e aceitar suas reações.

Alimentá-lo, fornecer-lhe abrigo, treiná-lo. Torná-lo dependente de teus cuidados. Falar com ele e tornar-se tão dependente quanto. Amá-lo e escondê-lo do mundo e de teu egoísmo. Temer suas aparições aleatórias. Esquecê-lo.

Assustar-se ao vê-lo novamente. Desistir de conter o calafrio e o desespero. Tentar fugir dele até reconhecer-se inútil, patético e grotesco. Finalmente dar-lhe o primeiro abraço, para a estranheza de ambos. Recomeçar.

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