Perdeu-se na tentativa de contabilizar as loucuras
inofensivas que acumulou recentemente e também não sabe quantas vezes tentou fazer
essa contagem. Conhecia apenas as primeiras conseqüências de suas atitudes: o
isolamento, a claustrofobia de seu novo mundo e a sensação de voltar no tempo
sem precisar fechar os olhos.
Reencenou em sua imaginação os atos protagonizados por
alguns de seus personagens preferidos: Jon Osterman na superfície de Marte,
contemplativo; Desmond Hume a bordo de um navio, desesperado por sua constante;
Joel Barish dentro de si mesmo, agarrando com as unhas suas lembranças.
Foi instantâneo. Bastou visualizar a foto e à sua frente não
estava mais o computador, a mesa ou as paredes brancas do quarto. Fora
transportado de uma só vez para outros lugares conhecidos, como se pudesse
estar em todos eles ao mesmo tempo. Um sofá em meio ao barulho, corredores e
calçadas, incontáveis mesas de bar, carros, elevadores, outro computador, outra
mesa, “outra cerveja, por favor”. Imensa diversidade de lugares e companhias.
Em comum, a alegria indescritível suavizada pela necessária máscara de teatro.
A mulher da foto continuou a encará-lo. Apesar de estática, parecia
alternar entre o sorriso tímido e o olhar de quem já sabe de tudo. Mas a ilusão
se desfez ao lembrar-se de que não estava lá, onde e quando a foto foi tirada.
Um breve sentimento de culpa pela inveja infantil de querer estar no lugar da
lente e então a percebeu presente. De fato, ela nunca saíra de seus pensamentos,
como um adeus nunca respondido.
Ao final da madrugada, Roy Orbison o deixou indeciso: faltou
tempo para escolher entre “In The Real World” e “In Dreams”. Conheceu, assim, a
origem da areia em seus olhos ao acordar.
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