segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Válido Silício


O andróide caminha silencioso pelo campo de testes da fábrica. Programado para consertar seus pares autômatos, sua rotina consiste em analisar cada problema, executar a melhor solução seguindo suas diretivas de prioridade e emitir uma notificação referente à unidade verificada.

Por ser detentor de avançada inteligência artificial, capaz de aprender e se aprimorar com a experiência de seu trabalho, possui restrito tempo de funcionamento. Sua utilidade tem prazo estabelecido para expirar e após este período deverá ser desativado, como forma de proteção para seus criadores. O aperfeiçoamento da programação original é aceitável até ultrapassar um determinado limite e então ser considerado avaria permanente. Um forte indicativo desta situação é a tomada de decisão em relação a reparos extras, fora da ordem estabelecida em seu cronograma.

Ainda que registre as datas desde sua ativação, não possui parâmetros para quantificar sua vida útil, uma vez que tal informação não é encontrada em seu microchip. Como acontece aos demais andróides de sua classe, o direito ao auto-reparo lhe é negado. Todos os seus componentes possuem o mesmo e único registro de série e ele não tem autorização para substituí-los ou modificá-los.

No momento em que efetua mais uma análise, seu sistema identifica falha interna. Há uma sobrecarga na capacidade de processamento devido à avaliação mais detalhada da unidade, pois esta não apresenta qualquer indício de mau funcionamento. O processo torna-se cíclico até comprometer a integridade lógica do andróide. O dano é irreversível.

A recuperação de sua base de dados é realizada automaticamente, então ele é desligado. Em seu último relatório, a previsível mensagem: “Erro ao ser analisado”.

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