Na primeira hora da alvorada despertou com a preocupação
ingênua de contar seus pertences, como se precisasse garantir que nada havia
sumido. Jogos, brinquedos, alguns livros para colorir, estavam todos em seus
devidos lugares. Tomou leite, comeu pão com geléia de morango e logo foi
brincar.
Mais tarde, ainda não totalmente desperto, novos interesses
apareceram, novos itens colecionáveis lhe foram apresentados e, um a um,
adicionados às prateleiras de seu quarto. Discos, revistas em quadrinhos,
filmes, livros, brigavam entre si por espaço e atenção. Tomou duas xícaras de
café puro, sentou-se à beira da cama e ficou mais uma vez indeciso sobre o que
fazer em seguida.
Mal havia parado de bocejar e já se convencia de que
entendia tudo sobre todo mundo. Muitos amigos chegaram e saíram, ajudando e
atrapalhando. Suas musas jamais o entenderam completamente. Procurou a bebida
alcoólica mais próxima e se viu com uma escolha relativamente simples em suas
mãos. Ponderou brevemente entre adequar-se e correr o risco de adquirir amnésia
ou compor uma melodia que reverberasse em seus pensamentos para sempre.
Optou pela eternidade. Contudo, ao se dar conta de que seu tempo
jamais chegaria ao meio-dia e, consequentemente, não conheceria o calor máximo
do Sol, chorou por alguns instantes. Voltou-se para a companhia segura de seus
objetos inanimados tão estimados e logo esqueceu o significado da tristeza. A
partir daquela manhã sem fim a criança nunca mais envelheceu.
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