segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Brinde em Viena


Não é surpresa para ele saber que o silêncio forçado não funcionou. As tentativas de distração mostraram-se ineficientes e o jardim satânico floresceu mais vigoroso. No entanto, ele está surpreso por não se sentir frustrado, mas orgulhoso.

A vontade de dizer a ela mais que palavras muitas vezes é substituída por gracejos improvisados apenas para vê-la sorrir. Porque o tempo é escasso e o espaço, imenso. Natural é aproveitar os raros momentos juntos para zombar do sagrado, alimentar a criatividade, celebrar trocadilhos infames e fingir que poderia ignorar para sempre o que lhes é estabelecido.

Teme ter se transformado em um disco de vinil riscado na última faixa do lado b, prolongando ao máximo o fim da canção. Os ouvidos não lhe são concedidos e não pode adivinhar se um dia ela saberá que foi presenteada com novas melodias. É estranho sentir os dedos calejados e a mão dolorida ao acordar diariamente o violão.

Não se vê solitário, mas percebe-se incompleto. Falta a ele a personificação do que mais lhe ocupa o pensamento e que representa, ao mesmo tempo, desafio e inspiração. Falta um copo à mesa, um cheiro de cigarro que não incomoda, uma opinião contrária, uma conversa que não se acaba. Falta o conhecido olhar embriagado, a voz doce, o elogio inesperado e aquela sensação de que o improvável poderia virar realidade.

E permanece a saudade de ser odiado.

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